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O Miojo® é o meu mentor e a fome não me matará

O Miojo® é a representação culinária de uma transição importante na vida. Ele é a refeição símbolo do desprendimento do vínculo familiar, o alimento que expõe a inabilidade recém-descoberta de lidar com o mundo.

O Miojo® é a nossa companhia quando saímos da casa dos pais e passamos a morar sozinhos. Nos primeiros momentos, não conseguimos nos ver, num futuro próximo, saboreando algo sofisticado como resultado dos nossos próprios esforços. E o Miojo® está lá, pré-cozido e carinhoso, pronto para abraçar nossas papilas gustativas sem pedir nada em troca.  Descobrimos que comer é o melhor relacionamento unilateral que existe.

Por diversas vezes sentimos saudade da interação dos ingredientes da casa dos pais. Quando os visitamos e comemos aquela macarronada caseira, é quase como fazer amor. Mas é o pacotinho de carboidratos de gosto homogêneo que está ao alcance das nossas mãos todas as noites. Não é a melhor opção, é a que temos disponível. O Miojo® é a masturbação das massas.

Essa transição não dura para sempre. Além disso, nosso organismo não se satisfaz com os poucos nutrientes que o Miojo® contém. No entanto, reacionários preguiçosos que somos, dispensamos a nutrição em favor da praticidade, usando a falta de tempo como desculpa, e passamos apenas a incrementar o molho.

Traímos o movimento libertário que o Miojo® representa. Rejeitamos sua essência prática e provisória perdendo o tempo ganho com o pré-cozimento na preparação do molho. Na verdade não queremos admitir, mas não adianta fazer um molho elaborado, a essência do Miojo® continua sendo a mesma. É como rebuscar um argumento ruim.

Assim, prolongamos nossa dependência em vez de buscar novas experiências para o nosso paladar. Mas uma hora teremos que devolver ao Miojo® essa sua essência provisória, coisa que deveríamos ter feito em três minutos.

É nessa hora que pediremos uma pizza.

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